"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

24 setembro 2009

depois de passar a noite tecendo culpas e florindo lágrimas, amanheço murcha, farta, morta de cansaço, de tristeza. a vontade de ir embora, de me esconder do mundo me consome e mata minhas esperanças de um futuro do teu lado. é triste, profundamente triste, constatar que tudo acabou, que tudo morreu, algo de um viço imenso.


choro enquanto escrevo isso que não adianta mais nada, não faz o tempo voltar, não reedifica o sentimento. meus olhos vermelhos não querem ver mais teu rosto ríspido, meus ouvidos estão surdos às tuas palavras duras, minha mão ainda guarda a quentura da tua, do teu corpo. é a lembrança boa que fica em mim: teu calor. tento esconder meu choro das pessoas que me cercam, mas meu soluço me denuncia e estou mais uma vez sendo interrogada e os motivos e a realidade se voltam com toda a força sobre mim.


o desejo que guardo tão profundamente em mim não é o suficente pra te fazer voltar e rever nos meus olhos e nas minhas mãos quanto amor eu ainda tenho, quanto carinho guardado, abafado, na ânsia de te dar.


quando meus olhos secam, minha alma se inunda de pranto e por dentro eu choro. estou magoada, me sinto só. a felicidade que parecia nunca acabar, foi embora sem mais e o que restou foram ruínas dentro de mim. sinto saudade, sinto falta e meu amor está longe e dentro de mim. sei que essa dor passa, mas não consigo me privar de senti-la, de esquecê-la, ao menos. fico sonhando e esperando que tudo seja um pesadelo, que vou acordar e viver novamente aquela felicidade de outrora, mas a realidade me chama e grita bem alto meu nome.


não sei por que motivo você consegue afastar as pessoas que te amam. sei que o amor não é brinquedo, não é coisa que se viva como quem vive um caso sem propósitos. mas não consigo entender como um sentimento tão forte, com raízes tão fundas, acaba. como essas raízes podem ser arrancadas sem machucar a terra em que elas se fincaram por tanto tempo? como pode uma planta tão vistosa, morrer seca e só? são os segredos da natureza. e como todo segredo, ninguém sabe, ninguém viu.


eu não sei, eu não vi como você foi saindo assim da minha vida...

17 setembro 2009



CANÇÃO DE OUTONO


Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o própro coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.

Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando àqueles
que não se levantarão...


Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...

Cecília Meireles
Cecília Meireles

epigrama n.2


És precária e veloz, Felicidade.
Custas a vir e, quando vens, não te demoras. Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo,
e, para te medir, se inventaram as horas.
Felicidade, és coisa estranha e dolorosa:
Fizeste para sempre a vida ficar triste:
Porque um dia se vê que as horas todas passam,
e um tempo despovoado e profundo, persiste.
Cecília Meireles

nem tudo é fácil...

É difícil fazer alguém feliz,
Assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo,
Assim como é fácil não dizer nada.
É difícil ser fiel,
Assim como é fácil se aventurar.
É difícil valorizar um amor,
Assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer por hoje,
Assim como é fácil viver mais um dia.
É difícil abrir os olhos e enxergar o que de bom a vida te deu,
Assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua.
É difícil se convencer de que se é feliz,
Assim como é fácil achar que sempre falta algo.
É difícil fazer alguém sorrir,
Assim como é fácil fazer chorar.
É difícil se pôr no lugar de alguém,
Assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.
Se você errou, peça desculpas...
É difícil pedir perdão?
Mas quem disse que é fácil ser perdoado?!
Se alguém errou com você, perdoa-o...
É difícil perdoar?
Mas quem disse que é fácil se arrepender?!
Se você sente algo, diga...
É difícil se abrir?
Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar?!
Se alguém reclama de você, ouça...
É difícil ouvir certas coisas?
Mas quem disse que é fácil ouvir você?!
Se alguém te ama, ame-o...
É difícil se entregar?
Mas quem disse que é fácil ser feliz?!
Nem tudo é fácil na vida...
Mas, com certeza, nada é impossível...
Precisamos acreditar, ter fé
E lutar para que não apenas sonhemos,
Mas também tornemostodos estes Sonhos
Realidade...!
Este texto é de Glácia Daibert, e não de Cecília Meireles, como circula por aí.