"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

31 dezembro 2009

"Alors tu n'y gagnes rien!"


O título deste post é parte da fala da raposa, presente no clássico da Literatura Francesa Le Petit Prince, de Antoine Saint-Exupéry.
O pequeno príncipe, depois de cativar a raposa, declara sua partida e então começa-se a grande reflexão proposta pela obra sobre criar laços.

"Assim o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua - disse o principezinho. - Eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis - disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! -disse ele.
- Vou - disse a raposa.
- Então, não terás ganho nada!
- Terei, sim - disse a raposa - por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Assim, compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te presentearei com um segredo.
O pequeno príncipe foi rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu a tornei minha amiga. Agora ela é única no mundo.
E as rosas ficaram desapontadas.
- Sois belas, mas vazias - continuou ele. - Não se pode morrer por vós. Um passante qualquer sem dúvida pensaria que a minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela quem eu reguei. Foi ela quem pus sob a redoma. Foi ela quem abriguei com o pára-vento. Foi nela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi ela quem eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. Já que ela é a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus... - disse ele.
- Adeus - disse a raposa. - Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
- O essencial é invisível aos olhos - repetiu o principezinho, para não se esquecer.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante. (...) Os homens esqueceram essa verdade - disse ainda a raposa. - Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa..."

Pois é, a raposa está certa: os homens (adultos) esqueceram a verdadeira amizade. Os homens esquecem-se da responsabilidade mais importante: cuidar do outro. Aliás, os homens esquecem-se de cativar. Cativar, como a própria raposa diz, é criar laços, e criar laços não é nada além de consideração e responsabilidade pelo outro. A maioria das pessoas nesse obscuro século XXI é tão egoísta, que se esquece de ver além do que se vê. Se esquecem que o essencial é invisível aos olhos... E terminam não entendendo nada quando de repente as coisas mudam e as rosas começam a murchar. Infelizmente, não posso dizer que tenho maturidade suficiente para manter todas as rosas do meu pequeno jardim, nem posso dizer que me esforço. Sou imperfeita. (e nem precisava dessa redundância. Sou - já é imperfeição...) Mas eu tenho boa vontade, apesar de ser artigo abundante no inferno. Tenho boa vontade.

Feliz 2010!

p.s.: a imagem foi retirada do filme The Little Prince, de 1974.

01 dezembro 2009

considerações sobre a apatia


"- Não acho que posso continuar vivendo num lugar que abraça e cultiva apatia, como se fosse uma virtude.
- Você não é diferente, nem melhor.
- Eu não disse que era. Não sou. olha, sou simpático. Simpatizo totalmente. A apatia é a solução. É mais fácil se perder em drogas que lidar com a vida. É mais fácil roubar que trabalhar pra ter. É mais fácil bater numa criança que educá-la. O amor custa caro. Requer esforço e trabalho.
- Estamos falando de doentes mentais, de assassinos loucos.
- Não estamos. Estamos falando do cotidiano. Você não pode ser tão ingênuo."

Seven