"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

31 agosto 2011

Bela



depois que fazemos amor, eu gosto de tocar o pescoço suado, envolvido pela sua imensa cabeleira. é uma bela mulher. não a mais bela, mas é minha nessa cama, nua, adormecida. eu poderia passar toda a noite inteira conduzindo meus dedos por entre todos aqueles sinais. beijava um por um e sentia o perfume quente e forte: minha saliva na sua pele forma nossa fragrância. seus fios espalhados pela cama, cuido em colhê-los todos para formar de seus cachos minha fortuna.
ela dorme enquanto eu velo. é bom perceber seu corpo em repouso, depois de vê-lo em tão ávidos movimentos. seus pequeninos pés repousados sobre a cama caminhavam até mim há poucos minutos e se erguiam no beijo que ela me dava encostada à parede. suas pernas, seus braços morenos me envolviam em seu calor. dos seus lábios, melodias se transfiguravam e eu via nossas cores, nossos sons misturados. ela era minha e era bela.
seu ventre agora guarda meu futuro e, dentro dele, nossa vida. sou dela e trago em meu pulso a força da qual ela precisa para gestar-nos.

a morte não dói

a morte dói mais nos vivos.
nós, ainda tão vivos,
nós, ainda simples corpo,
nós amamos a alma
ou o que dela resta na lembrança.
e insistimos em sentir pena
de quem partiu,
e insistimos em chorar copiosamente
sobre cada túmulo recém-fechado,
e insistimos no preto,
um luto anunciado que revela bem menos
do que, de fato, é.

a morte nem dói.
nós ainda não sabemos.
mas a morte não dói.

12 agosto 2011



a prata lunar derramada sobre a rua
não me traz a saudade de outros tempos.
não me fala coisas de amor, nem de dor.
a lua banha a rua de prata e só.