"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

04 janeiro 2010

considerações sobre a chuva

A madrugada derrama sobre mim o seu silêncio, o seu frio. Ouço os sons da escuridão e penso. A chuva agora cai na cidade adormecida. E eu... Penso. Penso, e dos meus dedos não saem sequer um cigarro aceso, uma luz acesa. O cheiro de terra molhada me distrai por alguns instantes. Como pode alguém se aborrecer com a chuva? Pura ignorância. Não sou a pessoa mais sabida entre nós, mas sei que a chuva faz frutificar. Sei também que a chuva leva árvores, areia, casas, gente. Mas a chuva também traz, principalmente, lembranças. Lembrança de arco iris, de amor.
Lembra dos nossos dias na praia? Lembra do dia que amanheceu chovendo e você estava gripado? Tivemos que esperar, ilhados, as nuvens secar. Eu me lembro: do guarda chuva emprestado, das poças de lama no meio do caminho, daquele vento que espalhou teus papéis, do teu olhar, da tua proteção, do nosso amor. Da praia, mesmo, eu lembro pouco. Nós sequer mergulhamos. Nem no raso... Contemplamos o horizonte, conversamos, até brigamos, mas vimos toda a chuva passar acolhidos nos nossos abraços, confortados por nossas palavras, embalados pela vontade de sair e ver o sol. Mas gostamos da chuva. Ela acariciava nossos rostos, as gotas misturavam-se ao nosso suor. Éramos um na chuva.
A chuva continua em mim, mas eu não sei se esse quadro que eu pintei realmente existiu. Talvez seja mais uma criação da chuva que, agora, cai no meu quintal. Talvez eu tenha sonhado tudo, querido muito tudo isso e, por isso, construi essas lembranças agora, nessa madrugada, no meu quarto.

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