"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

24 fevereiro 2010

elegia à Tristeresina do Torquato de todos os tempos

os dias em Teresina estão cada vez mais tristes. exceto por uma ameaça de chuva um dia ou outro nesses esperançosos primeiros meses do ano. um céu azul escuro, repleto de núvens densas me faz sentir uma felicidade pura e simples, como se meus genes retirantes se lembrassem do passado remoto e de como um dia eles desejaram tanto ver aquele céu.
me aborreço com muito pouco. na verdade, sou dotada de uma facilidade imensa para o esquecimento. mas não aproveito essa habilidade que poderia ser libertadora e definidora do meu futuro. chuva não me aborrece, sol escaldante também não. termino por me confundir com eles e, por vezes, choro quando o suor na minha testa escorre pelo meu rosto ou quando, sorte minha, percorro as avenidas em dia de chuva.
não me aborreço com quase nada, exceto com minha eterna mania de acreditar no que quer que seja. aliás, mania de acreditar em acreditar que acreditar me fará melhor do que os demais, meus companheiros. vaidade? sim, pode ser.
então, os dias em Teresina passam a ser eternas danações: o asfalto quente, clima sem vento, somente o fogo estorricando a pele e o juízo da gente. estuda-se muito, trabalha-se muito, reconhece-se muito pouco aqui nessa Terra do Sol. mas há que se fazer justiça com o pôr-do-sol: é um evento bom de se ver, embebedar-se com aquela amarelidão que toma conta dos cumes das casas, das copas das árvores e enche alguns lares de ouro puro.
mas me aborreço muito pouco. tenho um não sei quê que me faz imune a determinadas circunstâncias. na verdade, choro muito, então se algo me fere, sou como criança que tem o bico ou o brinquedo preferido tirado à força. choro, choro, choro... e depois me olho no espelho com orgulho dos olhos vermelhos. masoquismo? sim, talvez. mas depois esqueço o objeto roubado, elejo outro que o substitua e volto a brincar, como se o brinquedo roubado nunca tivesse existido.
esse pragmatismo me aborrece. me sinto forte. estranhamente forte. queria sentir na alma, mas só sei chorar. principalmente quando os dias em Teresina ficam cada vez mais tristes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oôh, senti saudade! E näo escreve assim: eu choro!