quanto mais ela olhava o sol
mais seus olhos ardiam
e tentavam se fechar a tanta claridade.
mas ela queria, precisava ser cega pelo sol.
as retinas doloridas do cotidiano
recebiam prazenteiras os raios solares
fortes
impiedosos
e libertadores.
ela se perguntava: qual o preço da liberdade?
meu dois olhos.
depois de cega, sua audição começava a ser o sentido mais importante
e suprimi-lo parecia mais dificil.
mas não pra ela,
exausta dos sons do mundo,
dos gritos de dor
das palavras de injustiça,
de tanta hipocrisia
derramada sem reserva alguma
pelos gestos dos que andam por aí
em busca de corações a ferir.
simplesmente parou de escutar o que lhe diziam
e se fechou em sua minúscula concha imaginária.
cega e surda a quaisquer apelos,
ainda balbuciava alguns sons,
quase nada.
do lado de dentro da concha imaginava o mundo
que deixara: argumentava de si para si.
gritava, mas não se ouvia mais,
girava a cabeça, mas não mais se via.
era um vegetalzinho revoltado,
com um coração imenso.
3 comentários:
lindo, lindo, lindo!!!Simplesmente perfeito!!
bjs de toda cor
tem dor que não nos pertence, né? Sãos os riscos de quem anda com a alma nos olhos e se faz toda coração...
bjs, flor!
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