"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

10 junho 2010

meu olhar limitado, humilde, incorrigivelmente cristão,
não me permite ver além daquilo que me é permitido.
minha fraqueza, tão forte, se imprime no meu pulso frouxo,
em minha palavra timidamente proferida, em voz baixa.

o líder de grandes massas e palavras impactantes,
que enchem a boca, os ouvidos e o ego,
não nasceu em mim. não surgiu em mim o ser demasiado
perfeito, à semelhança do herói cristão, o homem plural,
herói, multifacetado, pós-moderno(se é que existe isso, de fato).

humana, demasiado humana. nasci da imperfeição.
e dou sempre com os burros n'água
ao tentar me esquivar de minha natureza.

não amo suficientemente meu próximo, meu irmão.
não vejo no outro meu espelho, não ofereço a outra face.
não compreendo os dois lados da questão,
não me esforço por ser pura, nem controlo meus pensamentos.

toda eu sou uma extensão daquilo chamado improferível,
inconfessável: o erro de Crasso, o ciúme de Bentinho,
a idiotia de Mishkin, o gauche drummondiano.

não me doem os defeitos e máculas que brotam espontâneamente
pelas minhas mãos estendidas, pelas palavras mal escolhidas,
não me doi existir assim tão pouca.

serei menos matéria em decomposição,
alma evaporável e finita.
não me tornarei imortal,
pouparei o mundo de maiores inutilidades.

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