"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

29 julho 2010

sobre a afeição

O dicionário diz que afeição é uma ligação sentimental. Porém, existem homens que são extremamente ligados a algo ou alguém sem qualquer espécie de sentimento. Devo, então, jogar fora, queimar e relegar à prateleira do esquecimento um dicionário tão displicente com os conceitos?
Não.
O problema não está no dicionário, mas nos homens. Estes, se lhes dessem outra oportunidade para nascerem e refazerem sua afeição, eles errariam mais uma vez. E mais outra e mais outra e quantas vezes fossem-lhes dadas novas chances de conhecerem a afeição. Por quê?
Porque poucas pessoas conseguiriam viver situações afetivas. Uma caneta, um brinquedo, um livro, um filme, uma canção, uma lembrança... tudo isso são objetos de afeição. E todos os homens já passaram, passam e passarão ao redor de cada uma dessas coisas. Mas não se deixam tocar. É como se qualquer tipo de sentimento possa prejudicar o distanciamento planejado, regulado e preestabelecido.
Esses homens não sabem o que é cultivar afeição por nada, nem ninguém. Não sabem, sequer, demonstrar um carinho, pois é sinônimo de fraqueza. Não, é preciso nem mesmo envergar, posto que há a possibilidade de quebrar.
Por isso, a afeição é uma palavra que nem aparece mais nas bocas das pessoas. Estamos nos bestializando. O primeiro sintoma é esquecer a afeição. Por isso, muitas vezes, é preciso lembrar mansamente do que nos fez humanos.

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