"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

24 novembro 2010

sobre a liberdade

tanta tinta vertida
na vã tentativa
de descrever
a liberdade...

posso dizer
que serei apenas mais uma
a investir meu tempo
sobre os conceitos do ar.

de ar se faz a liberdade,
seu verbo é voar -
sempre no infinitivo -
pronta para toda conjugação.

não é artigo que se compre,
em ponta de estoque
de liquidação,
embora esteja ao alcance das mãos.

não é artigo que se ganhe
num abraço, num olhar -
essas coisas dos sentidos
aprisionam a verdadeira liberdade.

por ser ar, podemos tê-la
no peito -
encher plenamente os pulmões
é o pleno exercício de liberdade.

por ser ar, dá vida,
gera o fogo, sustenta o voo dos pássaros -
únicos dotados desde nascença
da arte do ar.

por ser ar, suprime a vida,
se nos falta.
não há como substituí-lo
de nossa constituição.

há quem pense em encher os pulmões
de amor,
de dinheiro,
de fama.

sem saber que as chaves da prisão
têm vários nomes,
e que liberdade mesmo
só existe no ar.

não posso pegá-la,
guardá-la,
escondê-la dos invejosos.
a mim, só me resta viver.

encho os pulmões na manhã cinzenta
e percorro os mesmos caminhos,
quantas vezes sentir vontade -
a pulsão para o ar.

essa minha liberdade:
errar, tentando acertar.
saber ter o ar
que me cerca, me envolve

e me lança
sobre abismos,
vales,
planícies.

Um comentário:

Pensamentos de Vida disse...

As vezes essa liberdade apriosiona um outro ser, pode-se errar para si, mas minha liberdade não pode ferir a de outra pessoa, muito menos meu erro, isso é consciência genuina. Não queira errar tentando acertar, queira acertar, e acertar consiste em buscar fazer o que é certo e não fazer o que é errado. Do contrário estaremos sempre no erro de um possível acerto.