"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

17 fevereiro 2011

ego

já fui anjo caído
na terra das auréolas.
quis gritar
onde o silêncio era ordem.
olhei a fundo
a superfície negra, camuflada.

já senti raiva
por meu irmão, meu igual.
condenei, não avaliei,
não amei o bastante meu semelhante.
repeti impropérios,
me feri nas minhas verdades.

construi poços rasos dentro de mim,
edifiquei muros ao meu redor,
montei barricadas, uma proteção.
instalei guarda contra mim,
abafei gritos de vitória,
não acenei a bandeira branca.

e fui deixando passar meu melhor:
aquilo que não conheço
e que floresce, apesar do muro,
apesar do fosso cultivado com esmero.
apesar de mim,
as plantas crescem no jardim.

apesar do mundo, apesar de tudo,
as flores brotam do asfalto.
atrás do muro caído
alguém reclama abrigo, abraço, conforto.
e não sou só eu,
não apenas eu...

o mundo é maior.
não cabe nas pontas de meus dedos.
o mundo não cabe nem no meu coração.
e alguém já disse isso.
e as coisas não mudaram...
"nada de novo debaixo do sol."

já fiz tudo errado -
e nem posso dizer nunca mais.
já disse tudo, até o que não podia.
atrás dos olhos vermelhos
alguém reclama abrigo, abraço, conforto.
e não sou só eu,
não apenas eu...

Nenhum comentário: