"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

29 abril 2011

fosso



"Que poder teria lançado esta luz nos olhos tristes e sonhadores desta mocinha? Quem fez subir o sangue às suas faces pálidas e murchas, quem fez com que o seu rosto suave mostre agora uma tal paixão? Por que o seu peito arfa? Quem foi que, assim tão de repente, trouxe força e vida e beleza ao rosto da pobre menina, cujo sorriso suave brilha agora e se transforma num riso ardente?" E olhamos à nossa volta, procuramos alguém e começamos a perguntar e a adivinhar... Mas esse momento é passageiro e talvez no dia seguinte voltemos a encontrar o mesmo lânguido olhar anterior, a ver de novo o pálido rosto e a mesma indolência e simplicidade de movimentos, e até talvez alguma coisa nova, uma espécie de desgosto, como sinal de arrependimento e de enfado por aquele breve instante de alegre animação... E então lastimamos que a beleza tenha desaparecido tão breve e irrevogavelmente, que tenha brilhado diante dos nossos olhos com uma luz tão falsa e enganadora... tristeza por não termos chegado sequer a tomar-lhe o gosto..."

Trecho da obra Noites Brancas(1848), de Fiódor Dostoiévski.
Imagem: La Nièce du peintre Assisse(1932), de André Durain.

Nenhum comentário: