"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

31 maio 2011

deus



como as árvores
que se erguem para o céu
e abrem seus galhos
num longo e permanente abraço,
ergo-me em direção
ao fluxo desconhecido
que brilha
e me chama ao alto.

20 maio 2011

carta aos professores

para Amanda Gurgel

O mundo não cabe nas minhas mãos. Nem mesmo o país, ou meu estado cabem nas minhas mãos. Talvez, se eu me multiplicasse - miraculosamente - minha cidade coubesse em minhas mãos. Mas, sendo uma, o que me resta é minha casa e a profissão que escolhi pra mim. Vejo estudiosos a discutir métodos, técnicas, teorias que fogem às cores reais dessa tela cansada da educação. Vejo nossos dirigentes perdidos em sua tarefa de solucionar tais questões. E me vejo de mãos atadas, solta, largada, com a missão
de salvar o futuro, enquanto meu presente perece todo dia. Não foi essa missão que escolhi. Não basta apenas dom, vontade... Não basta amor pela profissão... Professor é gente com necessidades, anseios, desejos... e amor: aos livros, aos estudos, aos alunos. Mas não apenas isso. A gente quer viver, não apenas sobreviver. A gente quer sonhar e poder realizar e não apenas envelhecer sem ver outros sóis. A gente quer ter esperança de fazer acontecer e não apenas tê-la e fim. A gente quer viver e ser professor.

09 maio 2011

eu não sou da sua rua



Eu não sou da sua rua,
Não sou o seu vizinho.
Eu moro muito longe, sozinho.
Estou aqui de passagem.

Eu não sou da sua rua,
Eu não falo a sua língua,
Minha vida é diferente da sua.
Estou aqui de passagem.
Esse mundo não é meu,
esse mundo não é seu.

(Arnaldo Antunes e Branco Melo)

02 maio 2011



se-pa-rar:
esperar para sarar

recado



Olha, deixa eu te dizer:
nada há no mundo que me possa compreender.
exceto as rimas pobres que teimo em compor
para recompor meu prazer.

Olha, deixa eu te mostrar:
tolice querer imaginar
minhas faltas, minhas exigências
e querer me compensar os desejos negados.

Olha, o melhor pra ti
é ir viver nesse mundo novo,
cheirando a leite,
e me deixar aqui.

cheia de palavras velhas,
de velhas vontades,
de velhos sonhos.
cheia de mim. toda repleta em mim.

sem ânsia por rima ou melodia.
contente e satisfeita com minha pequenez,
com minha estreiteza, meu egoísmo.
não quero compreender.

e se o castigo for a incompreensão,
que venha o troco na mesma moeda.
chorar não vou, nem lamentar.
olha, isso aqui sou eu.

foste tu quem pediste pra mostrar.

01 maio 2011

1o de maio

trabalho
serviço
emprego
ocupação
...

no dia do trabalho, mais trabalho - não importa que nome tenha!
e não importa que se comemore,
que se manifestem os trabalhadores!
tudo sempre foi assim: formigas carregando o osso do descontentamento.

pequeno conto trágico



um rosto sisudo olha pela janela o cortejo de momo passar e pensa como seria o carnaval sem cores, sem festa nem fantasia. e aquela barulheira toda não existiria e sua rua não seria suja com confetes e serpentinas e plumas e paetês.

o rosto sisudo não sabia que vivia em permanente quarta-feira de cinzas.