"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

17 março 2012

Autopsicografia



Agregou muito do seu nome
à personalidade: Rocha.
O que é sólido,
firme,
resistente.

E assim, viveu na certeza
da inquebrantabilidade,
atravessando mares, céus e estradas,
enfrentando chuvas, ventos, estiagem.

Esqueceu de contar com o tempo,
esse devorador de todas as coisas,
e não notou que foi se transformando
num subproduto de sua essência pétrea.

Nada mais que areia: foi o que restou
daquele que era sólido,
firme,
resistente.

Como um dia disse Marx: A solidez se deixa carregar pelo vento...

Elegia ao Homem do Século XXI



Para São Francisco de Assis

O homem do futuro exige paz em sua vida, mas não abre mão de suas convicções.
O homem do futuro quer ser perdoado, mas não perdoa quem atravessa seu caminho.
O homem do futuro, sendo maquiavélico, quer unir todos a sua volta em nome de um objetivo, mas não descarta a discórdia em nome do mesmo objetivo.
O homem do futuro duvida de todos que o cercam. Não passa por sua cabeça a possibilidade de ser ameaçado.
O homem do futuro exige a verdade, enquanto erra pelo mundo.
O homem do futuro espera não desesperar-se, enquanto desespera seu irmão menor.
O homem do futuro alegra-se com a tristeza do próximo. Ridicularizar é sua maneira de sorrir.
O homem do futuro quer luz, fazendo trevas.
O homem do futuro quer ser consolado, compreendido, amado, perdoado...
Mas não consola, não compreende, não ama, não perdoa.
O homem do futuro, inserido no mundo virtual, em que as relações humanas perderam seu calor, enxerga apenas a si mesmo.
Submerso na treva interior, ele se priva do contato solar com o outro, seu irmão.
A humanidade, cada vez mais, caminha a largos passos rumo à desumanidade.

Que assim não seja.