"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

30 novembro 2009

eu e clarice


Careço de humildade para me reconhecer tão pouca e incapaz. Incapaz de ser melhor, incapaz de ser mil vezes melhor do que esse esboço mal feito que sou. Mas se eu fosse capaz de me tornar melhor, quanto não haveria perdido de mim mesma? Quem eu seria, se pudesse melhorar a cada falha? Perder-me seria um ganho?

***

"Só sei ser impossível, não sei mais nada..." Macabéa a Olímpico de Jesus

***

"Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”

Clarice Lispector

Nenhum comentário: