ensinaram-me a desejar calada,
a conter meus anseios
e meus sentimentos mais puros.
educaram-me à força de punhos fechados,
cenhos contraídos que imprimiam medo,
gestos indiferentes aos meus sorrisos.
catequisaram-me à base de sangue e corpo humanos,
repetiram em mim massacres e violências
todos gratuitos.
e por ter nascido mulher
todas as prescrições foram duplicadas,
como se um bicho feroz habitasse meus olhos.
e se esqueceram de mostrar flores e cores
e cheiros, essências, perfumes,
sentidos, toques, paladar.
mas os descobri.
mesmo quando a porta fechada não me permitia ver
luz ou qualquer ponta de outra existência,
eu fechava os olhos e habitava o mundo de dentro dos meus olhos.
um mundo
em que todas nós, iguais,
caminhávamos de mãos dadas
e guiávamos o mundo.
tínhamos o poder de dar ao mundo gerações.
tínhamos o poder de fazer germinar a qualquer custo
uma muda, embora frágil, de humanidade
nos homens tão ocupados
e cegos ao que se dá tão plena e sinceramente.
tínhamos a nobre tarefa
de voltarmos a ser mulher.
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