"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

05 março 2010

o homem constrói
ruas
avenidas
estradas
para chegar a algum lugar.

o homem constrói
mapas
para não se perder
na procura por algum lugar.

o homem dignifica
suas horas de existência
com cálculos
cifras
porcentagens
como meio de chegar a algum lugar.

cria ícones
bandeiras
slogans
demarca lugares
cria sinais
ressignifica cores
atribui valores
tudo isso para ter algum lugar.

e no meio da parafernália
técnica
acadêmica
produtivesca
se perde.

se perde
e não sabe voltar
ao ponto de partida.
se perde
e não sabe os motivos
que o levaram
a caminhar
a perseguir tanto.

e, sem saber voltar,
cria raízes frouxas
na anti-terra capital.
faz-se feliz
com coisas minúsculas
contenta-se
com a aparência de veludo,
com o toque macio do veludo,
e tapa o nariz
à podridão sob o veludo.

esse homem articifioso
não sabe, apesar de muito saber,
o segredo das coisas
brotando espontâneas
no seio da terra.
esse homem...

*

não sabe
em que bicho se tornou.
um caçador antifelicidade
um caçador antivida
assassino de almas puras
mercenário atroz de pupilas sonhadoras,
pedras brutas
preciosas
encontradas em qualquer melodia
que inspire um olhar inquietante
curioso.
àquilo que não é óbvio,
que não traz facilidades
embutidas na face,
ele diz não
e se expõe à terrível dificuldade
de ir acabando consigo
pelo longo caminho que percorre
para chegar a qualquer lugar.

Um comentário:

Hotel Crônica disse...

Muito bom seu texto!
Te leva junto, e acho que é isso que todo texto bem escrito faz
Parabéns...

Como diz meu pai:
todos sabem como fazer, só não sabem por que.