"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

18 agosto 2010

Nós

(...)

A impressão doutros tempos, sempre viva,
Dá estremeções no meu passado morto,
E inda viajo, muita vez, absorto,
Pelas várzeas da minha retentiva.

Então recordo a paz familiar,
Todo um painel pacífico d'enganos!
E a distância fatal duns poucos anos
É uma lente convexa, d'aumentar.

(...)

Trecho do poema Nós do poeta português Cesário Verde.

Sempre gostei desse trecho, desde a primeira vez que li o poema. O passado é assim mesmo: de bom só a lembrança e esta, por mais nítida que seja, é sempre um painel pacífico de enganos esboçado pelo passar dos anos, pelo cansaço da nossa vista que insiste em aumentar coisas pequenas e criar a felicidade onde houve nada.

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