"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

12 dezembro 2010

Nel mezzo del camin...



Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

Olavo Bilac

Este soneto deu origem ao poema irônico de Drummond: No meio do caminho... Os motivos modernistas para "zoar" com os parnasianos eram legítimos. Isso, de certo modo, é incontestável. Mas incontestável também é a beleza do soneto de Bilac: de fato, é um pequeno som, mas muito belo e profundo, principalmente por conta das reflexões sugeridas sobre chegadas e partidas, enlaces e desenlaces vividos por qualquer um de nós nesse "caminho extremo". Além das origens dantescas, é claro.

Escultura do italiano Antonio Canova, Eros e Psiquê (1793).

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