"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

24 junho 2010

Coisas feitas (por Saramago)

No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e que é que estamos fazendo e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade.

“Somos sobretudo a memória que temos de nós mesmos”, La Provincia, Las Palmas de Gran Canaria, 20 de Julho de 1997 [Entrevista de Mariano de Santa Ana]

visite: http://caderno.josesaramago.org/

Suassuna para Saramago

"Não tem mais jeito, João Grilo morreu. Acabou-se o Grilo mais inteligente do mundo. Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre. Que posso fazer agora? Somente seu enterro e rezar por sua alma."

23 junho 2010

quando eu vim, luz e chama nas mãos,
atear fogo no teu céu,
um grito dentro da minha cabeça
estourava a curta ponta de lucidez
escondida sob as mechas negras e encrespadas
que carrego.
não era pavor que o grito denunciava,
nem amor, nem paixão, nem remorso
pela doação desmedida e desperdiçada.

era algo teu em mim,
aquilo que nunca vingou entre nós
nasceu em mim.

17 junho 2010

herança


o mestrado em letras me deixou uma coisa boa: o gosto pela culinária. adorava quando chegava o fim de semana e eu passava uma tarde inteira no sábado, preparando os bombons de damasco que eu bolei... ou experimentando novas receitas de brownie... ou testando as mousses de chocolate, limão... as delícias de abacaxi... até o popular creme, o pudim de leite, era bom fazer.

era minha maneira de ser gente. era tão bom.

hoje a correria é tanta que nem tenho mais tempo de abrir uma lata de leite condensado sequer... sinto falta disso.

preciso voltar a ser gente. e adoçar minha vida.

15 junho 2010

repassando

Se

Se você gosta do artigo,
não importam varizes, quilos a mais,
rugas, celulite,
se você gosta do artigo.
Se você gosta do artigo,
não contam o buço, a acne, a pele oleosa,
se você gosta do artigo.
Se você gosta do artigo,
não sobram nas pernas os pêlos,
nas axilas chumaços,
na boceta os tufos,
se você gosta do artigo.
Se você gosta do artigo,
jibóia, bacalhau, bode:
em nada atrapalha a fauna,
se você gosta do artigo.
Se você gosta do artigo,
uma certa feiúra, tampouco perturba,
se você gosta do artigo.
Se você gosta do artigo,
você gosta do artigo.

Dr. Ângelo Monaqueu

Retirado de: http://aliceruiz.com.br/content/se
será que o bitolado não é você
que só enxerga o que já viram por você?

10 junho 2010

meu olhar limitado, humilde, incorrigivelmente cristão,
não me permite ver além daquilo que me é permitido.
minha fraqueza, tão forte, se imprime no meu pulso frouxo,
em minha palavra timidamente proferida, em voz baixa.

o líder de grandes massas e palavras impactantes,
que enchem a boca, os ouvidos e o ego,
não nasceu em mim. não surgiu em mim o ser demasiado
perfeito, à semelhança do herói cristão, o homem plural,
herói, multifacetado, pós-moderno(se é que existe isso, de fato).

humana, demasiado humana. nasci da imperfeição.
e dou sempre com os burros n'água
ao tentar me esquivar de minha natureza.

não amo suficientemente meu próximo, meu irmão.
não vejo no outro meu espelho, não ofereço a outra face.
não compreendo os dois lados da questão,
não me esforço por ser pura, nem controlo meus pensamentos.

toda eu sou uma extensão daquilo chamado improferível,
inconfessável: o erro de Crasso, o ciúme de Bentinho,
a idiotia de Mishkin, o gauche drummondiano.

não me doem os defeitos e máculas que brotam espontâneamente
pelas minhas mãos estendidas, pelas palavras mal escolhidas,
não me doi existir assim tão pouca.

serei menos matéria em decomposição,
alma evaporável e finita.
não me tornarei imortal,
pouparei o mundo de maiores inutilidades.

viver: por Calligaris III

"Não posso exigir que, para eu ser feliz, todos procurem a mesma felicidade que eu busco"

acabei de dizer isso no trabalho... feliz coincidência!

06 junho 2010

sobre a infertilidade do instante II

acabo de ter uma ideia!
penso mais um pouco...
acabo com a ideia.

04 junho 2010

viver: por Calligaris II

"Em vez de tentar descobrir a famosa semente, invente sua vida."

02 junho 2010

não, não tente me fazer feliz!

esse é um trecho da música Pessoa, do compositor Dalto, autor de alguns poucos sucessos, mas que deixou sua marca na história da música brasileira.
a letra revela um eu lírico às voltas com suas confusões sentimentais, até então, nada de novo. não fosse o forte cunho intimista, a música resvalaria para o senso comum e repetiria fórmulas conhecidas e pisadas ao longo do tempo.
o medo, sentimento em foco na composição, paralisa as ações do eu lírico a ponto de este evitar um envolvimento mais sério e profundo por não mais crer nas promessas de felicidade. e o pedido(quase súplica. ou seria ordem?) "Não tente me fazer feliz" me faz pensar sobre o que é felicidade. sobre como este estado de espírito é mais simples do que se supõe.
Por que ele pede para o outro não tentar fazê-lo feliz? Talvez por que ele saiba que a felicidade é pré requisito para o um início de um romance. A felicidade individual e não aquela cuja existência é consequência do outro, do amor do outro, da presença, da entrega. Felicidade pura, aquela possível de ser alcançada, não depende de fatores externos. A felicidade é minha e é sua. Nada mais que isso. Talvez por isso, o eu lírico tente se distanciar das promessas de um novo mundo, de vida cor de rosa proferidas pelo outro. Talvez se a proposta fosse unir duas felicidades, o amor verdadeiro poderia estar em vias de acontecer.

A letra:

Olhar você
E não saber
Que você é a pessoa
Mais linda do mundo
E eu queria alguém
Bem no fundo do coração
Ganhar você
E não querer
É porque eu não quero
Que nada aconteça
Deve ser porque eu não ando bem da cabeça
Ou eu já cansei de acreditar

O meu medo é uma coisa assim
Que corre por fora
Entra, vai e volta sem sair
Não
Não tente me fazer feliz
Eu sei que o amor é bom demais
Mas dói demais sentir...
Você
E não saber
Que você é a pessoa
Mais linda do mundo
E eu queria alguém
Bem no fundo do coração

O meu medo é uma coisa assim
Que corre por fora
Entra, vai e volta sem sair
Não
Não tente me fazer feliz
Eu sei que o amor é bom demais
Mas dói demais sentir...
Você
E não querer
É porque eu não quero que nada aconteça
Deve ser porque
Eu não ando bem da cabeça
Ou eu já cansei de acreditar
Ou eu já cansei de acreditar
Ou eu já dancei...

O meu medo é uma coisa assim
Que corre por fora
Entra, vai e volta sem sair
Não
Não tente me fazer feliz
Eu sei que o amor é bom demais
Mas dói demais sentir...

http://letras.terra.com.br/dalto/81348/