"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

10 fevereiro 2011

Andrea Doria

Essa música da Legião Urbana, presente no Dois (1986), me faz sentir acompanhada na solidão.



Este da pintura é Andrea Doria, almirante genovês que viveu em pleno Renascimento (1466-1560). Personificando Netuno, deus romano dos mares, a tela é uma homenagem do pintor florentino Agnolo Bronzino (1503-1572), forma de exaltar os dotes marítimos de Doria.

Mas a letra da canção de Renato não comenta grandes feitos do nosso historicamente notável Doria. A letra conta decepções, frustrações e um desejo de não mudar, apesar das dores. Retomando a metáfora náutica tão típica no século XVII, somos apenas frágeis baixeis humanos, expostos ao sabor dos ventos e à bravura dos mares.

Às vezes parecia
Que de tanto acreditar
Em tudo que achávamos
Tão certo...

Teríamos o mundo inteiro
E até um pouco mais
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços
De vidro...

Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente
Quase parecendo te ferir...

Não queria te ver assim
Quero a tua força
Como era antes
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada...

Às vezes parecia
Que era só improvisar
E o mundo então seria
Um livro aberto...

Até chegar o dia
Em que tentamos ter demais
Vendendo fácil
O que não tinha preço...

Eu sei é tudo sem sentido
Quero ter alguém
Com quem conversar
Alguém que depois
Não use o que eu disse
Contra mim...

Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada
Que eu segui
E com a minha própria lei...

Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como sei que tens também...

Trecho de entrevista com Renato Russo e o relato de composição da letra:

"(...) a música é um diálogo entre uma menina que era cheia de vida, alegria e planos e que sempre me deu força e que nesse instante é quem está derrubada. Aí então sou eu falando para ela. Tem coisas que fala para mim e tem coisas que falo para ela: "Às vezes parecia que de tanto acreditar em tudo que achávamos tão certo/ Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais". É aquela coisa dos planos, o mundo está horrível mas nós vamos conseguir, vamos juntos etc. Aí no meio do caminho: "Mas percebo agora que o seu sorriso vem diferente/ Quase parecendo te ferir". Quando você entra no mundo adulto se não tomar cuidado deixa entrar o cinismo, fica "jaded".

E a música é uma conversa em cima disso: "Olha, realmente a coisa é difícil, mas não é por aí". Termina justamente falando: "A gente tem toda a sorte do mundo", sem especificar, que bem ou mal a gente não é favelado, não morre de fome. "Sei que tenho sorte, como sei que tens também". Uma das grandes temáticas das letras é exatamente essa, só que são sempre pequenas situações, colocadas de um certo jeito que a pessoa interpreta de outra maneira. Sempre tem uma historinha, uma mitologia."

fonte: http://ainagaki.sites.uol.com.br/textos/rrusso.htm

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