"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

25 fevereiro 2011

apenas mais uma fotografia desbotada



meu olhar se deixa estar sobre a fotografia. contemplar sua imagem perdendo a cor, o brilho, o viço não faz mais tanta diferença. no início, meus olhos choravam, não entendiam o percurso natural até o fim. hoje, um nó na garganta se forma e depois se transforma. vira nada. ou qualquer coisa que eu ainda não sei o nome. mas não incomoda mais. ou incomoda de um jeito diferente, como quando esquecemos algo que não costumamos carregar.
na fotografia havia um sorriso, mãos dadas, céu e sol. e hoje, o que eu vejo são minhas mãos dadas ao vento e, como você desaparecesse, consigo ver através de sua imagem, aos poucos desbotada, a selva de pedras escondida. cada pedra guarda um encanto. e esse encanto é caro demais pra quem não sabe poupar as mãos de suas pontas.
meu olhar cansado se afasta do centro da fotografia. repousa no telhado que vai escurecendo aos poucos à meia-luz do crepúsculo até chegar a noite fechada. vou lembrando devagar o que é ser. não me apresso em ter respostas, imagens nítidas de mim. uma lágrima distraída cai. então eu levanto, molho meu rosto, ponho os óculos e vou tentar enxergar as coisas mais de perto, sem saber que mais perto nunca é dentro. enxergar as coisas mais de perto sempre será enxergar nada.
a fotografia desbota na gaveta enquanto meus olhos brincam de ver e meu coração finge entender todas as cores do mundo.

Um comentário:

Anônimo disse...

pode ser "apenas" uma fotografia, mas o texto não é "apenas um texto" é o texto