"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

10 março 2011

o artesão de sonhos

ele me olhava ávido pelo presente e eu só sabia entregar um olhar distante. suas mãos seguravam as minhas com força, como se me resguardasse de um tufão e seus braços me envolviam com tanto calor que frio jamais passou entre nós. ele me resguardava do gelo e eu me protegia de nós. suas mãos fabricavam um cotidiano colorido, arranjado às pressas para nos contentar e fazer brotar risos de nossas bocas e esperanças em meu peito árido.
toda reconstrução demanda esforço, tempo e paciência e ele, insistente, trabalhava dia e noite na reedificação dos meus sonhos, dos meus desejos e anseios. ele não se cansava e não existia barreira ou tempo ruim que o fizesse parar, recuar. ele seguia me guiando pelos destroços, carregando o que podia ser aproveitado, o que era importante. ele nunca se ocupou de inutilidades, exceto daquela que ele carregava pela mão. mas ele amava e o amor protege o corpo contra qualquer dor e, apesar do peito desprotegido, ele não se feria por que ele sabia o que queria.
e assim nós seguíamos pela seara queimada dos meus amores: ele regando toda a plantação estorricada, lançando sementes ao chão, cultivando o pequeno solo infértil com o cuidado de um artesão que sabe que molda o barro para a última peça e, exausto, adormece ao fim do dia para recomeçar outro dia, e outra lida.
ele não deixava de me olhar, não soltava minha mão, não desistia de me guiar e continuava a encarar o fogo, a aridez, os destroços e minha descrença com as únicas armas das quais dispunha: esperança, esforço e paciência.

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