"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

03 abril 2011

lamento à Capitu

a inocência atrás dos olhos da menina me perturba. não que o leite derramado do peito não deva ser chorado, mas forjar inocência é um crime, assim como fingir amor. não estou aqui para dizer o certo e condenar o errado. acho até que essas duas palavras são dois equívocos grandiosos, principalmente quando reconheço a impossibilidade de enquadrar todas ações em apenas duas caixas tão pequenas.

os olhos da menina me perturbam por que eu queria que ela visse o que eu não consigo ver, nem descrever. meu defeito é acomodável apenas a mim. quando o vejo tão confortável em outra pessoa, uma sanha eriça meus pelos e o ciúme me enche de vontade de afiar as unhas em qualquer pescoço. somente eu posso ser sem ser de fato.

os olhos da menina são de um castanho impossível de pintar. suas pálbebras formam um ângulo inusitado quando questionada, como se quisesse dormir para fugir de uma obrigação, mas ao mesmo tempo, quer estar acordada para verificar as ações do seu interlocutor. os olhos dela estão longe dos meus cuidados, dos meus apelos e de minha mão que quer cercá-la de qualquer modo.

sei que os olhos dela sempre foram assim e que não foi por mim que ela aprendeu a fingir tão bem. conto todos os segundos que ela passa, distraida, a olhar o nada e a se perder no seu mundo, sem que eu possa acompanhá-la. seus olhos serão minha lembrança quando, já cansado de ter tentado entendê-la, o passado for minha única companhia e terá seu nome no vento que soprará ao meu ouvido.

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