"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

31 julho 2009

música para ouvir


Música para ouvir abriu o show de ontem de Arnaldo Antunes e Edgar Scandurra no Teatro 4 de Setembro. O teatro lotou! Gente por todos os lados! Cantando, gritando, pulando, urrando... uma verdadeira loucura! E foi tudo muito bom. O repertório foi composto de músicas feitas em parceria entre os dois. Houve apenas a exceção de Judiaria (do Lupicínio). Muita gente saiu dizendo que o show foi do Edgar... Outros, devotos de são Arnaldo, é claro que apregoavam o contrário, mas acho que o show foi bem medido e bem pesado. Os dois foram ótimos! A guitarra forte do Scandurra complementava a voz igualmente forte de Arnaldo e ambos fizeram o show.

Pediram pro Arnaldo assanhar o cabelo... e ele assanhou!
Pediram pra ele cantar Fora de si... e ele cantou!
Scandurra pedia pra todo mundo bater palmas, estalar dedos... e todo mundo obedecia!

Há muito tempo eu não gostava tanto de um show do projeto 6h30!! Isso sim é música para ouvir, música para ouvir, música para ouvir!!

Estou na espera por Moska!


21 julho 2009

Dear Prudence

Dear Prudence won't you come out to play
Dear Prudence greet the brand new day
The sun is up the sky is blue
It's beautiful and so are you
Dear Prudence won't you come out to play

Dear Prudence open up your eyes
Dear Prudence see the sunny skies
The wind is low the birds will sing
That you are part of everything
Dear Prudence, won't you open up your eyes

Look around round
Look around round round
Look around

Dear Prudence let me see your smile
Dear Prudence like a little child
The clouds will be a daisy chain
So let me see your smile again

Dear Prudence won't you let me see you smile
Dear Prudence won't you come out to play
Dear Prudence greet the brand new day
The sun is up the sky is blue
It's beautiful and so are you
Dear Prudence won't you come out to play

The Beatles

20 julho 2009

nem tão óbvio assim...

os clássicos

são clássicos

por imortalizarem (pela primeira vez)

o óbvio.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche...

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos".

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la queria.
Como no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oir la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocio.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.

Eso és todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuanto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.
Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.

Pablo Neruda (Poema XX)

17 julho 2009

O paciente inglês


Outro filme que me faz pensar a dialética amorosa é O paciente inglês. baseado no romance homônimo de Michael Ondaatje, conta uma história de amor tão bela quanto confusa, profunda e intensa. São duas histórias em uma: a do paciente resgatado no deserto com o corpo consumido pelo fogo e a dedicação exclusiva que a enfermeira Hana dedica ele e a outra que revela o amor que matou Almasy e K. a Katherine do conde. romance proibido pelo casamento de Katherine. pelo menos no início, ela disfarça o amor que ele já começa a mostrar com pequenos gestos e às vezes confusos, beirando a grosseria. a cena de amor que acontece entre eles no meio de uma comemoração de natal é uma das mais quentes e bem feitas que já vi. o contraste da selvageria dos dois escondidos, enquanto todos, na celebração, cantam noite feliz, acompanhados do marido de K. que está vestido de Papai Noel.

o modo como a narrativa se desenrola é instigante. apesar de algumas pessoas taxarem o filme de cansativo e monótono, acho que o cotidiano de um homem encontrado semi-morto no deserto não pode ser diferente. e é essa realidade que é tratada no início. o filme é extremamente verossímil e por isso, termina por atrair críticas desse tipo. a narrativa evolui a medida em que o diário de Almasy vai sendo lido pela enfermeira depois que os dois abrigaram-se da guerra num mosteiro e alguns personagens começam a aparecer, como por exemplo Kip e Caravaggio.

a história de Almasy e Katherine não é uma história bonitinha, organizada. a personagem chega a dizer que não é uma esposa normal. claro! ama o marido e não sabe se desvencilhar daquele que provocará, de certo modo, sua morte. a paixão cega os dois a ponto de não saberem mais respeitar as fronteiras que os separam: uma sociedade machista, na qual a posição dela seria a mais fragilizada.

Depois de ter passado a noite das bodas de papel com o amante, K. resolve terminar o caso e fazer que o marido não saiba nada que aconteceu entre eles, mas é tarde, pois Geoffrey já sabe e tenta matar os dois com o avião. força K. entrar no avião que ele está pilotando e tenta atropelar Almasy. Geoffrey morre e fere K. Almasy se safa e tenta salvar sua amante da morte, levando-a p/ uma das cavernas recém descoberta por eles e atravessa o deserto a pé em busca de ajuda. por uma série de zebras, nada acontece como o planejado e K. morre sozinha na caverna. Almasy, ao final do filme, assume a culpa pela morte da mulher que amou tanto. ele já era dela. logo ele que dizia odiar a posse, queria possuir K. mais do que qualquer coisa e sua morte foi o pior castigo por todo esse tempo que ele passou tentando fugir das contradições do amor. final trágico??? não. tendo em vista que, no final da vida, Almasy abdicou da morfina e morreu ouvindo a enfermeira ler as últimas palavras escritas por K. no livro de Homero. eles morreram juntos e essa foi uma forma bastante inteligente de deixá-los juntos, já que a união em vida seria, no mínimo complicada.

o que mais me chama a atenção é o comportamento às vezes doentio de Almasy, aquele pesquisador outrora equilibrado e racional. aquele mesmo tão exato em suas palavras, não usava adjetivos, queria possuir a amante, queria mesmo dar um nome e estabelecer a posse de uma parte do corpo de K. no jogo amoroso brincar com a posse faz parte de uma retórica preestabelecida há tempos. quando isso ultrapassa a barreira do jogo linguístico característico da relação amorosa, a coisa muda de figura. ele queria possuir. ele também queria ser possuído. essa é a grande contradição do personagem Almasy: ele queria possuir aquela que já o possuía sem fazer muito esforço.

por isso, os dois filmes mexem muito com o meu imaginário: são histórias de amor real, vivido e sofrido. nessas histórias qualquer um pode se reconhecer em alguma parte de sua vida, ou não. a mim basta apenas ter a esperança de um dia ser tão amada quanto K. e Ada (do post anterior), nem que seja apenas nas densas páginas de um romance ou nas breves páginas de um conto.


O piano


não sou cinéfila (nem sei também se existe a flexão de gênero pra esse substantivo, mas, de qualquer forma, está aí), mas não poderia deixar de escrever hoje sobre dois filmes que admiro muito. observações de ordem técnica, vocês, camaradas cinéfilos, não encontrarão em minhas palavras. minha observação cinematográfica é de cunho extremamente pessoal, por isso peço licença, mais uma vez.

pra não ficar mais chato do que já está, começo por dizer que O Piano e O Paciente Inglês são os dois filmes que, até hoje, mais me tocam, principalmente no que diz respeito à história de amor que ambos carregam. uma boa história de amor nunca termina bem. parece trágico? não... quando digo que ela não termina bem não quero dizer que o par romântico deva morrer, ou ficarem exilados um do outro. Longe disso!

em O Piano, não temos um final tão feliz assim... a impressão que tenho cada vez que revejo o filme é que os acontecimentos se sobrepunham aos personagens de um modo tão intenso e assustador que a única saída era aquela. Ada inicia seu sofrimento quando sabe que terá que partir para se casar com um homem que nunca viu. depois sofre com o descaso do marido pelo seu único objeto de devoção: o piano. mais tarde, o marido verifica que teria sido melhor para todos ter cedido e voltado pra buscá-lo na praia o quanto antes. quem tomou a atitude que o marido deveria ter tomado foi Baines, que, usando de meios duvidosos, termina por conquistar Ada e conseguir o que o marido nunca conseguira: seu amor, seu desejo. A tragédica começa a ser esboçada quando o marido enciumado corta com um machado o dedo indicador de Ada como forma de puni-la pelas tentativas de encontrar Baines. e então, reconhecendo que sua esposa nunca seria de fato sua mulher, Stewart se rende e pede que ela se vá com a filha, o amanta e o "maldito" piano. me furtarei de contar mais detalhes como forma de aguçar a curiosidade dos que ainda não assistiram ao filme. agora, por que digo que o final não foi tão feliz assim, se os amantes ficaram juntos? bom, ficaram por conta do esforço de uma das partes. Baines decide abandonar a profunda floresta da Nova Zelândia como forma de compensar o estrago feito na vida de Ada e também como forma de realizar o amor entre os dois. Mas na viagem de volta, feita por eles e vários nativos em uma pequena embarcação onde o piano também era tripulante, Ada vê a possibilidade de pôr fim ao seu sofrimento, afundando no mar junto ao seu piano. ela deixa seu pé ser envolvido pelas cordas que estavam presas ao piano que foi jogado a seu pedido. e por quê? por que o fardo amoroso não suporta longos tempos. Ada é salva por Baines e os outros nativos que mergulham ao mar para resgatá-la. ela então, torna-se a sobrevivente do próprio suicídio. apesar do amor intenso que viveram nos poucos dias que passaram juntos, ela não suportaria a idéia de passar por tudo novamente. teria ela medo de que tudo se repetisse? o medo de que a proibição de tocar o piano e de ser quem ela é poderia voltar e instalar o descontentamento, mesmo que fosse sugerida uma nova vida, num novo lugar, com outro homem?? Ada vive a plenitude amorosa com dúvidas. passa a lecionar, a ter aulas para voltar a falar e ganha um protótipo de dedo feito por Baines. mas isso tudo passa pelo medo terrível de magoar e ser magoada novamente. as personagens são permeadas de dúvidas, mas Ada é a que mais duvida de um final feliz. ela não vê em Baines sua tábua de salvação, não o considera aquele que a tirará do caos e instalará a plenitude. Ada tem medo do que os homens (não só os homens, mas os homens...) possam fazer mais uma vez com ela. por isso (e por várias outras coisas que eu ainda nem sei) O Piano é visceral, por trabalhar a dialética amorosa. nada é decisivo no amor, nada é eterno (desculpem o clichê), as boas recordações de uma relação são poucas e amplificadas pelo sentimento nutrido pelos amantes. pode-se viver de boas recordações o resto da vida, mudá-la nem sempre é possível. Só pra provar que não sou a amarga da história, admito que Baines é perfeito em seu sentimento. fiel até a última instância aos seus desejos, capaz de burlar qualquer contrato, qualquer convenção em nome do que sente. sua maior vitória é provar à Ada que o que sente é sincero e fazê-la sentir o mesmo por ele. o filme é fantástico por fazer das incertezas a única certeza possível.

08 julho 2009

ausência


"Instalo-me sozinho num café; alguns vêm me cumprimentar; sinto-me acolhido, requisitado, lisonjeado. Mas o outro está ausente; evoco-o em mim mesmo para que ele me retenha na beira dessa complacência mudana que me espreita. Apelo para sua "verdade" (para a verdade cuja sensação ele me dá) contra a histeria de sedução para a qual me sinto resvalar. Torno a ausência do outro responsável por minha mundanidade: invoco sua proteção, sua volta: que o outro apareça, que me retire, como uma mãe que vem buscar o filho, do brilho mundano, da fatuidade social, que me devolva "a intimidade religiosa, a gravidade" do mundo amoroso" (...) "A ausência do outro segura minha cabeça debaixo da água; pouco a pouco, sufoco, meu ar se rarefaz: é por essa asfixia que reconstituo minha "verdade" e preparo o Intratável do amor."


Roland Barthes (Fragmentos de um discurso amoroso)

02 julho 2009

a felicidade...


A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo,usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade.
Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se.
Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.


Martha Medeiros

poema




eu hoje tive um pesadelo
e levantei atento, a tempo
eu acordei com medo
e procurei no escuro
alguém com o seu carinho
e lembrei de um tempo

porque o passado me traz uma lembrança
do tempo que eu era ainda criança
e o medo era motivo de choro
desculpa pra um abraço ou consolo


hoje eu acordei com medo
mas não chorei, nem reclamei abrigo
do escuro, eu via o infinito
sem presente, passado ou futuro
senti um abraço forte, já não era medo
era uma coisa sua que ficou em mim
e que não tem fim

de repente, a gente vê que perdeu
ou está perdendo alguma coisa
morna e ingênua que vai ficando no caminho
que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
pela beleza do que aconteceu há minutos atrás...

Cazuza