"o resto é mar. é tudo o que eu não sei contar..."

28 fevereiro 2010

quanto mais ela olhava o sol
mais seus olhos ardiam
e tentavam se fechar a tanta claridade.
mas ela queria, precisava ser cega pelo sol.
as retinas doloridas do cotidiano
recebiam prazenteiras os raios solares
fortes
impiedosos
e libertadores.
ela se perguntava: qual o preço da liberdade?
meu dois olhos.

depois de cega, sua audição começava a ser o sentido mais importante
e suprimi-lo parecia mais dificil.
mas não pra ela,
exausta dos sons do mundo,
dos gritos de dor
das palavras de injustiça,
de tanta hipocrisia
derramada sem reserva alguma
pelos gestos dos que andam por aí
em busca de corações a ferir.
simplesmente parou de escutar o que lhe diziam
e se fechou em sua minúscula concha imaginária.

cega e surda a quaisquer apelos,
ainda balbuciava alguns sons,
quase nada.
do lado de dentro da concha imaginava o mundo
que deixara: argumentava de si para si.
gritava, mas não se ouvia mais,
girava a cabeça, mas não mais se via.
era um vegetalzinho revoltado,
com um coração imenso.
quem parte
nunca sabe quanto dura
a primeira lágrima

24 fevereiro 2010

envelhevivecendo

assim

num acúmulo de chances não aproveitadas,
prazeres renunciados,
lembranças que criam raízes no peito
inerte e infértil.

lembranças: mandacaru murchando.
lenta e calmamente
enfrentando o calor
e a aridez de outras mãos,
os espinhos espetam o céu.

elegia à Tristeresina do Torquato de todos os tempos

os dias em Teresina estão cada vez mais tristes. exceto por uma ameaça de chuva um dia ou outro nesses esperançosos primeiros meses do ano. um céu azul escuro, repleto de núvens densas me faz sentir uma felicidade pura e simples, como se meus genes retirantes se lembrassem do passado remoto e de como um dia eles desejaram tanto ver aquele céu.
me aborreço com muito pouco. na verdade, sou dotada de uma facilidade imensa para o esquecimento. mas não aproveito essa habilidade que poderia ser libertadora e definidora do meu futuro. chuva não me aborrece, sol escaldante também não. termino por me confundir com eles e, por vezes, choro quando o suor na minha testa escorre pelo meu rosto ou quando, sorte minha, percorro as avenidas em dia de chuva.
não me aborreço com quase nada, exceto com minha eterna mania de acreditar no que quer que seja. aliás, mania de acreditar em acreditar que acreditar me fará melhor do que os demais, meus companheiros. vaidade? sim, pode ser.
então, os dias em Teresina passam a ser eternas danações: o asfalto quente, clima sem vento, somente o fogo estorricando a pele e o juízo da gente. estuda-se muito, trabalha-se muito, reconhece-se muito pouco aqui nessa Terra do Sol. mas há que se fazer justiça com o pôr-do-sol: é um evento bom de se ver, embebedar-se com aquela amarelidão que toma conta dos cumes das casas, das copas das árvores e enche alguns lares de ouro puro.
mas me aborreço muito pouco. tenho um não sei quê que me faz imune a determinadas circunstâncias. na verdade, choro muito, então se algo me fere, sou como criança que tem o bico ou o brinquedo preferido tirado à força. choro, choro, choro... e depois me olho no espelho com orgulho dos olhos vermelhos. masoquismo? sim, talvez. mas depois esqueço o objeto roubado, elejo outro que o substitua e volto a brincar, como se o brinquedo roubado nunca tivesse existido.
esse pragmatismo me aborrece. me sinto forte. estranhamente forte. queria sentir na alma, mas só sei chorar. principalmente quando os dias em Teresina ficam cada vez mais tristes.

cuidado, Teresaaaaaaaaa!!!

Teresa, se algum sujeito bancar o
sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um
bonde
se ele chorar
se ele ajoelhar
se ele se rasgar todo
não acredite não Teresa
é lágrima de cinema
é tapeação
mentira
CAI FORA

Manuel Bandeira

23 fevereiro 2010

acabo de apagar
minuto por minuto
nossa história
fixada em imagens
poemas
sons.

do que sobrou,
dos escombros,
restos,
ruínas,
refaço meu dia
após dia.

e vivo.
aos poucos
abrindo os olhos,
esticando as pernas num passo,
abrindo os braços num esboço de voo.

corro ao precipício.
me lanço mais uma vez no espaço
- por vezes vazio - pleno de ar.
onde encontro outros mitos,
e aqueles esquecidos.

e percebo que ainda posso ver,
embora em meio à névoa,
o arco-iris inexistente,
forjado pelo meu olhar viciado,
como os dados de um jogo.

sobre remédios e túmulos

olho a luz pálida da tv.
a aparição de uma moça de terno, brincos de pedras e sombra cor verde nada me diz. ouço, bestialmente, seu discurso de vendedora e me surpreendo muito com sua oferta: "compre agora mesmo %#*&!!! é o remédio que vai curar todas as suas dores!"
olho fixamente aquele composto de tudo e nada ao mesmo tempo e me certifico de que é apenas mais uma forma de promessa do paraíso para os mais frágeis: "vende-se um terreno no céu" também já foi uma forma de ganhar dinheiro.

22 fevereiro 2010

viver: por Calligaris

"infelizmente, viver é se machucar; para não se machucar, é sempre possível deixar de viver."

19 fevereiro 2010

os pecados vitais de Ester

parada na soleira da porta, Ester não sabia mais se queria entrar. do que ocorrera dias atrás, só sobrou apenas uma dor não muito funda, algo quase imperceptível, só lembrança mesmo, dessas que demoram a voltar, mas que, ao voltar em visita, devastam uma noite inteira e cavam profundas sombras embaixo dos olhos.
o sol do meio dia queimava-lhe as costas, o suor escorria pelo pescoço, percorria a espinha e só parava no cós da calça já encharcado. as têmporas a latejar. sem malas, sem bolsa... o dinheiro trocado no bolso esquerdo. e a vontade de voltar pra casa da mãe.
era uma menina até então. suas fugas resumiam-se ao quintal da casa do vizinho, território sem segurança alguma. no fim da noite estava de volta ao quarto e à janta em família, na sala, todos em volta da mesa, em prece, quase entregues à pressa de comer. dessa vez fora diferente. precisava desafiar a si própria para saber o gosto de pensar por si. e, embora não trabalhasse e sua parca experiência doméstica nada de extraordinário lhe ofertasse, sabia o preço da fuga.
Ester tinha se cansado de cantar no coral da igreja. e, ao pedir ao pai que a liberasse de tal ministério, recebeu mais do que um não: "você vai ficar um mês a pensar nessa insensatez, sozinha, dentro do seu quarto. ore a deus para que ele consiga libertar sua alma dessa sombra de dúvida." ela sabia que não pedia muito e sabia bem mais que não merecia aquilo. ela só não se sentia mais tão bem em desempenhar uma tarefa que exige bem estar. Ester cometeu o primeiro pecado de sua vida: foi sincera.
ela ainda acreditava em deus e tinha uma imagem pura dele. ela sabia que ele podia ser totalmente diferente do que pintam, sabia ainda de todas as especulações sobre a vida sentimental de cristo e não se escandalizava por isso. Ester queria ser livre para pensar. e só.
ela poderia fingir que estava tudo bem, continuar a cantar no coral, rezar à mesa contente e, por dentro do quarto, trancada na madrugada, inventar filosofias próprias, imaginar deuses e deusas, ler todos esses caras que falam sobre o delírio divino... poderia. mas não seria Ester. seria outra pessoa talvez mais racional, comedida e centrada, mas não seria Ester: plena de sentimento e pulsão pela vida em sua forma mais plena.
ela se trancou a primeira noite no quarto e orou a deus que tirasse qualquer sombra de insatisfação da sua vida. qua a iluminasse em suas decisões, que a protegesse de pessoas más que poderiam se aproveitar de alguma sua fragilidade... e adormeceu com A mulher de 30 anos entre os lençóis. atrasada uns 10 anos, Ester começava a entender as balzaquianas.
no dia seguinte a essas preces, a ida ao colégio não foi trivial. no meio do caminho tinha uma pedra, ela parou para olhar e conheceu aquilo que já era tão familiar: alguns caminhos são repletos delas, mas mesmo assim são caminhos e levam quem os percorre a algum lugar. ela decidiu não mais voltar à casa.
com medo de que algo acontecesse ao irmão mais novo, seu guarda pessoal, entrou no colégio junto com ele e depois saiu, deixando mochila, cadernos e livros no banheiro. sem bilhetes, nem cartas, nem nada. Ester deixava a segurança do seu mundo por uma incerteza que o tempo poderia provar-lhe banal... mas mesmo assim ela foi, num acesso de loucura e lucidez simultâneos.
o primeiro dia foi doloroso: sem pai, mãe, irmão, conforto e segurança, Ester passeava pelas ruas e pensava numa forma de não voltar atrás. caminhou sozinha pela cidade até o amanhecer. ela pensava tanto: em como a vida é boba, em como se defende uma ideia até o próprio sangue lavar uma bandeira... e como aquilo estava mais do que presente em sua vida.
o dia seria longo. a dor seria longa. voltar foi seu pensamento. pé ante pé, percorreu o caminho de volta. ela sabia que todos estavam alvoroçados, inconsoláveis, perguntando-se motivos, porquês... ela resolveu voltar e encarar raios e trovões por todos os lados. pelo menos passaria a tempestade em casa.
foi quando Ester parou à porta de casa. era meio-dia, a mesa do almoço estava posta e ela pôde ouvir a prece de seu pai: "senhor, ajudai nossa filha amada, Ester, a encontrar o caminho de casa. ilumine seu coração e seu entendimento no sentido de fazê-la compreender o seu lugar no rebanho. faça com que ela volte reconhecendo seu erro de tentar encontrar outro caminho que não seja esse indicado por seu sangue, se essa for sua vontade. Amém!" - Assim seja, repetiram a mãe e o filho.
Ester ouviu tudo ali, na porta. parada, calada, receosa de tudo... até da vontade de deus. Ester não sabia se queria entrar e assumir uma cruz que não era sua. então, com medo e coragem no peito e nos pés, ela deu um passo para trás. o suor continuava a escorrer, o sangue latejando em suas veias. Ester não mais voltaria à casa paterna: ela seguiu a procurar o seu deus. ela não sabia esperar, resignada, o tempo trazer milagres: seu segundo pecado.

17 fevereiro 2010

desejo e mais outras coisas

ainda guardo aquele bilhete que você me deu quando viajamos juntos pela primeira vez. nele, você falava de vontade, desejo, tempo, coragem... e pedia desculpas - a única linha turva no meu entendimento.
deveríamos ter percorrido os velhos campos amenos e ainda verdes do amor adormecido? deveríamos, naquele instante, não ter dado vazão à razão que dominou meus gestos e os teus? deveríamos, naquela noite, ter fechado os olhos a tudo o que não fosse nosso e, nessa cegueira, ter posto nossa sanidade em prova?
não sei. minha veia pragmática de agora pouco se perdeu e eu não tenho mais os rumos a dar aos meus pés. aquele bilhete, amarrotado, num papel rasgado de improviso, no calor das tuas mãos, ainda dorme entre meus dedos amedrontados diante da possibilidade daquela felicidade tão sonhada por muitos e tão presente em nossas vidas naquele breve momento, naquela noite.
eu, M., tenho tido bons sonhos desde quando voltamos a conversar e a por em prática, embora aos poucos, os sentimentos contidos naquele bilhete. hoje, depois dessa tragicômica conversa na web, não sei mais o que pensar. não deito para não dormir e não sonhar. escrevo, sabendo que você lê em silêncio (ou terá sido apenas mais uma interpretação que me absolve de minhas culpas??), na esperança de minhas palavras irem ao encontro do seu coração.
mas tudo isso não passa de literatura. e leio agora, nesse momento, sua última pergunta, roubada também de improviso, no bilhete: "Quem roubou nossa coragem?"

Do fundo do meu coração



valendo-me de terminologias linguísticas sobre as diversas funções da linguagem, começarei o post expondo a função poética. esta afirma que a linguagem apresenta-se em seu estado poético quando as palavras (ou quaisquer que sejam os instrumentos de dada linguagem) estão dispostas de modo a causar estranhamento naquele que as observa, as contempla. uma organização não usual, incomum e que gerasse maravilhamento no observador proporcionaria essa aura poética às palavras.
continuando no pragmatismo linguístico, a função emotiva da linguagem, por sua vez, seria aquela que expressasse em sua completude os sentimentos e/ou pensamentos de quem escreve, acentuando o uso dos verbos e dos pronomes em primeira pessoa. A mensagem não teria o foco em si mesma, como na poesia, mas sim nas impressões daquele que produziu a mensagem, seja ela de que conotação for: raiva, dor, tristeza, amor, alegria, paixão, indiferença...
Bom. Essas poucas palavras, talvez equivocadas, eu usei para apresentar (maneira de falar, por que todos já ouviram/leram essa música) a famosa canção de Roberto Carlos, título do post.
devo dizer que, inicialmente, ela proporciona um entendimento bem mais emotivo que poético, dada a carga sentimental muito forte e o trabalho com as palavras ser mediano. mas é aí onde a linguística, como ciência, não consegue chegar: a poesia não está explícita na letra, mas implícita na vivência (fingida ou não, como confundiria Pessoa) do eu poético que sofre na canção. vida não é dor?
dor e vida são matérias clássicas na poesia. Roberto Carlos apenas engrossou o caldo das autoridades no quesito dor de cotovelo.
E quem não tem cotovelo para doer?

Eu, cada vez que vi você chegar,
Me fazer sorrir e me deixar
Decidido, eu disse nunca mais
Mas, novamente estúpido provei
Desse doce amargo quando eu sei
Cada volta sua o que me faz.

Vi todo o meu orgulho em sua mão
Deslizar, se espatifar no chão
Vi o meu amor tratado assim
Mas, basta agora o que você me fez
Acabe com essa droga de uma vez
Não volte nunca mais pra mim.

Mais uma vez aqui
Olhando as cicatrizes desse amor
Eu vou ficar aqui
E sei que vou chorar a mesma dor

Agora eu tenho que saber
O que é viver sem você

Eu, toda vez que vi você voltar,
Eu pensei que fosse pra ficar
E mais uma vez falei que 'sim'
Mas, já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim

Mais uma vez aqui
Olhando as cicatrizes desse amor
Eu vou ficar aqui
E sei que vou chorar a mesma dor

Se você me perguntar se ainda é seu
Todo o meu amor, eu sei que eu
Certamente vou dizer que 'sim'
Mas, já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim

Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim

16 fevereiro 2010

o vôo dos pássaros
atinge e fere em cheio o ar,
tão pleno de si,
tão raro,
tão rarefeito.

o ar nasceu
para ser ferido,
e as asas para ferir.
voar, sair, exige dor.
liberdade dada
não é liberdade merecida.

e antes que lágrimas corram
e simples palavras lançadas ao vento
se derramem a quaisquer ouvidos,
é necessário quebrar o vidro protetor.
o vidro que existe ao redor
da semente vital.
o vidro que sufoca
o vidro que limita.

germinar: viver
sem ar é impossível.
viver sem sentir
a luz
é projeto de morte.
viver sem saber
a dor
é passar pela vida,
e não viver.
ainda não sei caminhar
assim tão só,
assim tão solta.

amparo-me nos corrimões,
nas calçadas altas,
nos muros chapiscados.

firo-me ao agarrar qualquer apoio
e noto, sempre depois,
que a queda seria melhor.

nessa estrada sem flores,
sem acostamentos
e sem vida

caminho em busca de qualquer coisa
que ainda não sei como
aparecerá aos meu olhos.

nem sei mesmo se virá,
se se mostrará,
se acenará.

mas caminho.
e busco.
o quê, eu não alcanço...

12 fevereiro 2010

a negra silhueta caminhando no escuro tinha o jeito leve dele se levar. ele vinha, indefinido, pela extensão da rua ainda molhada pelo chuvisco demorado. eram já 23h e, apesar do cansaço, eu ainda estava na rua. a porta de casa estava à minha frente, mas as luzes da cidade me prendiam à calçada. resolvi ficar e fumar um pouco.
acendi o isqueiro. a silhueta começou a caminhar em minha direção. depois de alguns anos a gente embrutece e não sente mais nada, nem medo. não me movi. fiquei parada na calçada. coloquei o cigarro na boca sem acendê-lo.
tentei disfarçar, olhei para outro lado, mas queria mesmo ver o seu andar e lembrar da esperança que alimentei durante um longo tempo de vê-lo voltar com as malas que ele levou, com as fotografias rasgadas e com todas as palavras sem sentido que ele me disse na última vez.
mas não. olhei para o outro lado da rua ouvindo cada vez mais próximos os passos dele. um sapato claro, calça jeans, camisa branca. era ele! tive certeza! e então comecei a treinar as primeiras palavras a dizer: esperei tanto por você... naquele dia, quando eu fiquei... quando você foi... por que você foi? você nunca me disse... eu nunca soube... quem? quando? aonde você se escondeu? a casa, as coisas, nós... me perdi. eu me perdi naquele passado já um pouco apagado e fantasiado pelos artifícios da memória.
de repente, os passos pararam de se fazer ouvir, minha vista embaçou, o cigarro caiu e eu nem me dei conta. sentada na calçada, resolvi olhar novamente em direção a ele. parado ao meu lado, de pé, aquele homem trazia uma grande mochila nas costas e ofegava. "Preciso ir à rodoviária." - ele me disse. a voz destoou da minha expectativa. foi quando olhei para o seu rosto e vi que outros eram os mundos daquele que ia ao meu encontro. que outras eram as dúvidas e preocupações daquela silhueta tão familiar. que outro era aquele homem, tão nítido em minha memória. "O próximo ponto de ônibus é por ali." - respondi sem encará-lo.
ele se foi. e eu retomei o vazio das minhas mãos, do meu olhar no horizonte. sentada na calçada, catei do chão o cigarro e acendi uma pequena luz na minha vida.

11 fevereiro 2010

boneca de vidro

Uma das coisas que mais me machucam é ser tratada como uma boneca de vidro: excesso de cuidados, lugares proibidos, conversas vetadas. Por mais que pareça infantil, ainda encontro pessoas assim. mas tudo isso nem faz mais sentido, pois viva estou eu cá, e mortos estão todos aqueles num lá remoto demais para meus sentimentos de pêsames.
Noite sem lua,
Rio em calmaria.

Sapos coaxando em plena harmonia
E nós.

O teu olhar
molhado de carinho.

O meu olhar
em paz, se vendo no canto do teu.

Tuas mãos abertas
pedindo as minhas.

Minhas mãos abertas
voando ao encontro das tuas.

Noite sem lua,
Rio em calmaria.

Sapos coaxando em plena harmonia
E nós.

05 fevereiro 2010

Só por hoje



esse post é dedicado a todas as pessoas que trabalham seus espíritos na esperança de um dia serem pessoas melhores.

Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu espero conseguir
Aceitar o que passou e o que virá
Só por hoje vou me lembrar que sou feliz.

Hoje eu já sei que sou tudo o que preciso ser.
Não preciso me desculpar e nem te convencer.
O mundo é radical.
Não sei onde estou indo
Só sei que não estou perdido
Aprendi a viver um dia de cada vez.

Só por hoje eu não vou me machucar
Só por hoje eu não quero me esquecer
Que há algumas pouco vinte e quatro horas
Quase joguei minha vida inteira fora.

Não, não, não, não
Viver é uma dádiva fatal,
No fim das contas ninguém sai vivo daqui mas -
vamos com calma!

Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu não vou me destruir.
Posso até ficar triste se eu quiser.
É só por hoje, ao menos isso eu aprendi.

YEAH!
(letra e música: Renato Russo e Dado Villa-Lobos)

Urbana legio omnia vincit



há quem diga que não ouve mais Legião Urbana: "Já tá manjado, as letras, as melodias, os arranjos, todo mundo já sabe, não tem mais novidade. A banda acabou mesmo." engraçado... ouvir isso é muito engraçado. é como se a vida não fizesse sentido por que uma pessoa vive a mesmice de uma vida medíocre e repete as mesmas banalidades todos os dias e ao invés de recriar e reinventar suas atitudes, recai no pecado de repetir os mesmos erros. essa pessoa está perdendo a oportunidade de se encontrar diversas vezes, de diversos modos na mesma canção e/ou em várias outras.
a verdade é que há muito tempo eu compreendo a Legião Urbana como uma filosofia de vida. Amo Chico Buarque, Arnaldo Antunes, Céu... mas sempre que estou no fundo do poço é a Legião que me levanta. olha, as músicas mais donws conseguem me tocar de um modo como se fosse eu que tivesse escrito (quem nunca se sentiu assim ao ouvir Legião?).dia desses escrevi sobre a Via Láctea, acentuando a "ineficácia do discurso impessoal"... ou seja, aquela coisa chata de ouvir quando se está péssimo: "Quando tudo está perdido sempre existe uma luz..."
então, a Legião Urbana conseguiu fazer o que nenhuma outra banda contemporânea sua conseguiu (e algumas até hoje tentam): traduzir em letra e música os mais variados sentimentos. os álbuns podem mesmo ser compreendidos como um verdadeiro sobe-desce sentimental: o primeiro, Legião Urbana, traz aquela brincadeira adolescente, o Dois traz a típica revolta adolescente, Que país é esse é o jovem engajado, político, mas que teve início já no primeiro e atravessou o segundo. As Quatro Estações é o jovem apaixonado, O V é sombrio, o verdadeiro retrato da desilusão amorosa, Descobrimento do Brasil é a superação da dor de cotovelo: todas as músicas contam um antes sombrio e um depois ensolarado. A Tempestade e Uma outra estação são o retorno ao sombrio, Renato Russo estava muito doente e não pode privar sua arte de representar tamanha dor.
é por isso que eu digo sem medo nenhum de me chamarem do que quer que seja: Ouço Legião Urbana! Eu grito pra quem quiser ouvir, pra quem me perguntar: "Você ainda escuta Legião??" hahahahaha... eu rio na sua cara!!! Eu não escuto, pq quem escuta não ouve nada! Eu OUÇO Legião, eu respiro Legião. Legião Urbana ultrapassa os limites dos meus tímpanos. E você, pobre coitado, "volta pro esgoto, baby, vê se alguém te quer!"
A Legião urbana tudo vence!

Hachiko: A Dog's Story - Sempre ao seu lado



"O verdadeiro Hachiko nasceu no Japão na cidade de Odate, em 1923. Seu dono, o Dr. Eisaburo Ueno, professor da Universidade de Tóquio, morreu em maio de 1925. Hachiko retornou à estação Shibuya, a cada dia, e o esperou, por 9 anos. Hachiko morreu em março de 1934. Hoje, em sua homenagem, há estátua de bronze de Hachiko no lugar em que ele esperava, na estação de Shibuya, Japão."

"Não me lembro de meu avô, ele morreu, eu era muito jovem. Mas quando ouvi a história dele e Hachi, é como se eu o conhecesse. Eles me ensinaram o significado de lealdade e que nunca se deve esquecer quem se ama. Assim, Hachi será sempre meu herói."
Esse é o meu herói: Meu Akita Halph!



sempre me perguntei como pode haver gente que detesta cachorros. gente que simplesmente não suporta sua presença e o chuta e espanta de suas vistas. alguém certa vez disse que quanto mais conhecia o homem mais admirava os cães. não lembro quem, mas acertou. uma pessoa que odeia cachorros não pode ser muito boa...